III Caravana pela Ecologia Integral: a Europa também precisa se responsabilizar com a dívida ecológica
Duas lideranças indígenas do Brasil fazem parte da caravana que termina neste sábado (12/10), na Alemanha. O grupo da América Latina tem apresentado a relação direta da Europa com a violação que ocorre pela mineração: “eles têm mensagens muito claras de que a Europa também precisa se responsabilizar, por aquilo que o Papa chama, de dívida ecológica. A Europa também tem que criar mecanismos que respeitem o direito dos povos”, afirma Guilherme Cavalli, coordenador da caravana.
Andressa Collet – Vatican News
Termina neste sábado (12/10) a III Caravana pela Ecologia Integral, a jornada de um grupo de 9 latino-americanos afetados pelo extrativismo e pela mineração – entre eles, dois brasileiros e lideranças indígenas – que estão na Europa para dialogar sobre “as realidades martirizadas pela minas” em meio ao contexto da transição minero-energética. A delegação formada por representantes da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile e Peru está visitando o último país proposto no roteiro, isto é, a Alemanha, mas já passou pela Espanha, Bélgica, França, Itália e Áustria.
Encontro com membros das congregações masculinas e femininas fundadas por Santo Arnaldo Janssen, Viena. O diálogo abordou o tema da conversão ecológica integral e a atuação das congregações na coerência ética, administração e desinvestimento em mineração
A iniciativa leva a mensagem de defesa da vida de territórios do sul do mundo, pois acredita no diálogo com o norte global como estratégia indispensável para o cuidado da casa comum. Essa terceira edição da caravana, promovida pela Rede de Igrejas e Mineração, pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), juntamente com as comunidades afetadas pela mineração na América Latina, pede negociações urgentes para acabar com a injustiça climática.
Na Itália em 4 de outubro, Dia de São Francisco de Assis, o santo padroeiro da ecologia, o grupo visitou a Rádio Vaticano. Guilherme Cavalli, coordenador de todas as edições da caravana, concedeu entrevista e aprofundou sobre o objetivo da caravana que tem visitado diferentes públicos para falar sobre a situação dos seus territórios devido à poluição e à violação de direitos e às novas lógicas extrativistas. O gaúcho faz parte da Rede de Igrejas e Mineração e está morando na Alemanha, onde faz uma especialização em Estudos Ibero-americanos na Universidade de Heidelberg.
Guilherme Cavalli (à direita) quando trouxe a caravana na Rádio Vaticano
Na entrevista, Guilherme fala que, neste ano, não conseguiram encontrar o Papa Francisco devido aos compromissos com o Sínodo dos Bispos, mas relembra a experiência “muito bonita” do ano passado, quando o Pontífice encorajou a continuar na caminhada em defesa da casa comum e dos mais vulneráveis. No próprio encontro recente com representantes dos Movimentos Populares, enfatiza Guilherme, o Papa abordou o tema da mineração e de como o modelo afeta os territórios.
“Ele pontualmente comentava sobre a questão do lítio e todas essas falsas soluções para as transições energéticas que têm nesses minerais uma uma suposta saída. O que a gente está vendo junto aos povos indígenas e comunidades tradicionais são saídas que vêm justamente intensificando toda essa violência, toda essa violação de direito das comunidades e impedindo a vida digna delas.”
As responsabilidade também da Europa
Duas jovens lideranças indígenas do Brasil, por exemplo, têm apresentado na caravana uma relação direta da Europa com a violação que ocorre pela mineração: pela questão do financiamento, feita através de bancos e fundos de pensão e investimentos, mas também com a compra desses minérios que vem para cá.
“Eles têm mensagens muito claras de que a Europa também precisa se responsabilizar, por aquilo que o Papa Francisco chama de dívida ecológica. A Europa também tem que ser responsabilizada e criar mecanismos que respeitem também o direito dos povos.”
“Vir desde América Latina para a Europa para estabelecermos esse diálogo e juntos também construirmos uma casa comum mais sustentável, uma casa comum que respeita as pessoas e a natureza.”
Encontro com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, onde se dialogou sobre ações conjuntas entre a Igreja na América Latina e Europa
Em preparação para a COP30 no Brasil
A III Caravana pela Ecologia Integral, então, ressalta a necessidade e a urgência de que sejam mais respeitados os direitos humanos na cadeia de mineração, compromisso que também compete a Europa. Os bispos europeus já vêm se somando às agendas em andamento e em concomitância com a Igreja na América Latina no que diz respeito à construção daquela para 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém (PA), em novembro de 2025.
“Tem que apurar o passo”, finaliza Guilherme, porque a casa comum vem dando sinais muito concretos de que “esse modelo que a gente vem desenvolvendo de produção de consumo, esse modelo extrativista”, precisa sofrer mudanças, intensificando “políticas que sejam políticas de cuidado”.