Conflito: EUA e China à beira de uma Nova Guerra Comercial?
Marcello Carvalho, economista da WIT Invest – Créditos: Divulgação
Qual seria o impacto provável de uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo sobre o crescimento econômico global e a inflação?
Ficamos muito acostumados a depender cada vez mais dos produtos chineses na economia global. Devido aos custos de mão-de-obra, a China desenvolveu um peso muito importante na economia industrial nos últimos 30 anos. Porém, agora com o presidente Trump querendo endurecer as barreiras tarifárias e a redução dos impostos, devemos ter um aumento na produção interna de produtos industrializados, o que pode ajudar até mesmo ao restante do mundo deixar de ter tanta dependência da China, isso porque teremos, novamente, um grande produtor industrial na economia global.
De que maneira as multinacionais podem reorganizar suas cadeias de suprimentos para reduzir a dependência da China ou dos EUA?
É difícil deixar de depender totalmente das duas maiores economias do mundo, porém, temos atualmente um país que está brigando muito em questões populacionais com a China que é a Índia. Por ser um país em que tem tentado ficar fora dos conflitos econômicos e sociais dos últimos anos e por ter uma abundância de mão-de-obra, existe uma chance significativa das empresas buscarem abrir filiais em outro gigante asiático.
Como a política interna nos EUA e na China influencia as decisões sobre tarifas e restrições comerciais?
Movimentos políticos normalmente geram consequências, sejam elas positivas, sejam elas negativas. Quando um país começa a lutar para endurecer o acesso aos produtos de outros países, seja através de impostos ou pelo banimento do comércio, é normal ocorrer uma retaliação econômica do país afetado. Isso gera um efeito em cadeia de restrições em cima de restrições. Por outro lado, isso serve de oportunidade para os demais países que não estão no conflito econômico a aumentar as vendas para os dois países que estão fazendo restrições entre si.
A América Latina poderia sofrer uma pressão por alinhamento político e econômico em relação aos EUA e à China?
Com certeza. Conforme dois lados políticos opostos começam a gerar entraves, é normal que se comece a buscar ou firmar relações amigáveis ao redor do mundo para que se consiga apoio político, econômico e, em alguns casos, até mesmo militar se for necessário. Portanto, o Brasil sofrerá diversas investidas chinesas e estadunidenses com a intenção de fortalecer os laços econômicos e sociais.
Quais seriam as implicações de uma guerra comercial entre EUA e China para a economia brasileira, especialmente nos setores de commodities?
Como a principal parte da guerra comercial entre os dois países será focado no segmento industrial, países produtores de matérias primas e commodities, como é o caso do Brasil, podem se beneficiar para intensificar suas exportações e aumentar o fluxo de divisas que entram no país. Por outro lado, além de não auxiliar em um desenvolvimento industrial brasileiro, as pressões que podemos sofrer políticas devem prejudicar a busca de melhores negócios entre os países.
Como o Brasil poderia se posicionar estrategicamente para minimizar os impactos negativos ou até mesmo se beneficiar de um potencial redirecionamento comercial?
O Brasil pode ser beneficiado politicamente se abstendo de quaisquer problemas e conflitos que os EUA ou a China venham a travar. Dessa forma, conseguimos sempre fazer o melhor acordo comercial com os países. Porém, caso figuras politicamente relevantes comecem a brigar entre si, o comércio brasileiro pode ser drasticamente prejudicado, podendo até mesmo causar quebras sistêmicas em alguns setores da economia.
Quais blocos econômicos ou países poderiam ganhar ou perder com uma intensificação das disputas comerciais entre EUA e China?
Blocos econômicos, como é o caso do Brics, podem ser beneficiados, porque a China pode tentar utilizar do bloco econômico para propagar sua influência econômica e aumentar o comércio entre o bloco, porém o comércio entre blocos, como é o caso do comércio do Brics com o Nafta.
Sobre a WIT – Wealth, Investments & Trust
A WIT – Wealth, Investments & Trust – é assessoria, planejamento e execução para cuidar do patrimônio de pessoas, grupos familiares e empresas, de forma integral e sincronizada, apoiada por uma sofisticada estrutura de especialistas e de empresas que atuam de forma independente, porém complementar.