De office boy a jornalista do agro

Wandell Seixas
Em Tel Aviv ao lado de outros colegas latino americanos participando da solenidade do 1° de Maio
Nos idos de 60/70 era muito comum os jovens da região Norte de Goiás e Maranhão percorrerem 1.500 quilômetros de distância para estudarem em Goiânia e Anápolis. Hoje, a criação do estado do Tocantins encurtou essa distância. Palmas, a capital tocantinense, é a cidade da região mais procurada para os estudos, a possibilidade de empreender um curso superior, e também de trabalho.
Naqueles tempos não havia estrada. O caminho mais seguro era o transporte aéreo. A Cruzeiro e a Vasp percorriam cidades como Aruanã, Peixe, Porto Nacional, Araguacema, Carolina (Ma), Araguatins, Marabá e Belém (Pa). Ou vice-versa. Era um dia inteiro de viagem. Noutra situação, o Araguaia era a outra saída: de barco por semanas a fio.

Participação de entrevista com o superintende da FAO na América do Sul
Seguindo dois de meus tios e do meu irmão Reid, que tiveram um primeiro momento de estudos em Anápolis, viajei de avião para a Capital. Antes, todavia, estudei parte do primário no colégio dos padres em Conceição do Araguaia, sul do Pará.
Em Goiânia, fiz até a segunda série ginasial no Ateneu Dom Bosco. Depois tive uma parada e prossegui os estudos, fazendo o curso de madureza, do primeiro e segundo ciclos e conseguindo num prazo de apenas dois anos na Faculdade de Direito da UCG. É, com certeza, um momento especial e de glória para mim. Demonstrou que “querer é poder”.
Mas, sempre trabalhei. Lembro como se fosse hoje do meu primeiro emprego. Fui indicado para trabalhar como contínuo, o office boy de hoje, na Radional, dirigida por Francisco Durval Veiga. Foi a primeira empresa de telefonia em Goiânia. Eu e o Adir Fernandes de Carvalho éramos encarregados de levar os avisos às pessoas de quem alguém de algum lugar queria falar pelo telefone.

Começando a vida profissional como office boy. Eu e o Adyr
Naqueles tempos, poucos dispunham de telefone. Então, as pessoas eram avisadas de uma ligação para determinado horário. Nós dois percorríamos de bicicleta os diferentes setores da cidade. Muitos deles longe. Mas, de bicicleta cumpríamos a tarefa. Pouco asfalto. Não havia tanta poeira, mas subidas. Era comum ganhar uma gorjeta. Alegria e tanto. Mas, também ganhava um extra com a lavação dos sanitários.
Ao servir o Exército, mais precisamente o 6º Batalhão de Caçadores, a 2ª Companhia foi transferida para Ipameri, cidade situada na Estrada de Ferro Goiás. Veja bem: além de cumprir as funções militares, passei a editar um informativo envolvendo os colegas. Intitulado de “902” como se fosse o número do ultimo soldado do 6º BC.

Foto histórica: Na imagem, Mazinho, Wandell, Nana, Jorge Amado, Mesquita, Pedro Ludovico e a criança
De volta, já em Goiânia, tive passagem pelo Diário do Oeste na condição de repórter. Não havia ainda faculdade de jornalismo. Mas, mas nas mãos de Javier Godinho, Hélio Rocha e Reynaldo Rocha tive a verdadeira universidade. No DO, como era conhecido, entrevistei o marechal Josip Broz Tito, presidente da então Iugoslávia, líder socialista, mas que não aceitava “ordens” de Moscou.
O dirigente iugoslavo veio a Goiânia. Foi recebido no Palácio das Esmeraldas, pelo governador Mauro Borges e pelo presidente João Goulart no Palácio das Esmeraldas. Em dado momento, Jango e Tito colocam as mãos sobre os meus ombros. Os fotógrafos do Cine Foto Fred tiram fotografias. Incrível: o regime militar assume o poder e as fotos históricas de minha vida profissional são incineradas para evitar comprometimento dos colegas.
Em O Popular, órgão diário da Organização Jayme Câmara, fui repórter de economia, reforçando o agro ao lado de Alírio Afonso de Oliveira e posteriormente Henrique Duarte. Com a TV Anhanguera, do Grupo JC e afiliada da Rede Globo, numa manhã o Javier Godinho, redator chefe de O Popular, recebe uma ligação telefônica perguntando se “alguém da redação não queria trabalhar no programa rural em criação”. Ninguém quis. Anos depois, optei pelo jornalismo agrícola. Atuei, ainda, na TBC, na TV Metrópole.

Com colegas em evento rural da cidade de Cascavel
Dona Célia Câmara, esposa de Jayme Câmara, presidente da OJC, era uma mulher empreendedora. Nos idos de 80 quando o “machismo” imperava no mundo, sobretudo no Brasil, dona Célia resolveu criar o programa Mulher na Tv. Anhanguera. Fui comentarista. Eu era o único Bolinha no meio das Luluzinhas. Uma honra para mim. Meu trabalho era enaltecido justamente por ela, uma pessoa singular, além de seu tempo. Recebi de presente pela minha participação no programa um quadro do renomado escultor Siron Franco. A obra retrata a mulher em duas faces: a atual e a do passado. Nos dias de hoje, o Siron dá novo testemunho: a mulher ocupa o seu espaço sem as amarras do passado. Acrescento que ainda há um pouco de discriminação.

Dilvo, presidente da Cooparvel, uma forte liderança cooperativista do Sudeste
Desempenhei, ainda, as funções de assessoramento na Prefeitura de Goiânia nas gestões Hélio Seixo de Brito e Iris Rezende Machado; Faeg, indicado pelo jornalista Domiciano de Faria, então presidida por Félix Eduardo Curado. Passei por vários administradores; na Secretaria da Agricultura, gerida por Antônio Flávio Lima; na Acar, presidida por Valdez Ayres Vasconcelos, depois transformada em Emater; CDL, sob a presidência de Luziano Martins Ribeiro; na Câmara Municipal de Goiânia, presidida pelo vereador Fued Rassi; deputado Tiãozinho Costa, senador Wilder Moraes, SGPA, sob a liderança de Beto Guimarães, e Ricardo Yano. Criei o Jornal do Campo, na Faeg, editei informativo da Arisco, quando tive oportunidade de entrevistar Rubinho Barrichello, que ganhou projeção na Fórmula 1, entre outros. A empresa de alimentos goiana patrocinava o consagrado corredor.
Graças ao jornalismo agropecuário, pude percorrer todos os estados brasileiros, países latino-americanos, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Alemanha, França, Espanha, Portugal. Em Israel, durante três meses participei de um curso de cooperativista agrícola, visitando propriedades rurais onde se praticam os sistemas do kibutz e moshaves.
- Wandell Seixas é jornalista, bacharel em Direito e autor dos livros O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste e a História da SGPA. Criou e mantém o portal Abrindo a Porteira.