Educação financeira deve começar com as crianças, recomenda professor

Ao reunir um grupo de jornalistas voltados para a cadeia do agronegócio em Bebedouro (SP), a Credicitrus procurou apresentar a importância do cooperativismo brasileiro, enfatizando porque a Cooperativa ocupa uma posição de liderança. Membros da diretoria, como Fábio Fernandes, Walmir Segatto, entre outros discorreram sobre o desempenho positivo da instituição. Chamou a atenção também a palestra diferenciada do professor Carlos Eduardo Freitas Costa. Autor de vários livros infantis voltados para a educação financeira, o professor Eduardo comoveu o auditório da Credicitrus pelo tema atual abordado, embora não voltado inteiramente para a cadeia do agro.

Discutiu sobre investimentos, planos para a aposentadoria, orçamento comprometido, previdência em risco, educação financeira, observando que os desejos são ilimitados, mas os recursos limitados e a necessidade do planejamento financeiro, para que as finanças sejam mantidas sob controle. Para manter esse equilíbrio, segundo Eduardo, há necessidade de mudanças de hábitos, elegendo prioridades. Chamou a atenção, ainda, para o consumismo, sobretudo o impulsionado pela propaganda. Os juros atuais foram focados porque eles contribuem para as dificuldades.
Segundo o professor Eduardo, nas últimas semanas, algumas manchetes chamaram a sua atenção. “Brasileiros deixam de iniciar faculdade para gastar com apostas e jogos de azar, aponta pesquisa”. “Assaí diz que poder de compra de consumidores tem diminuído por causa de apostas esportivas”. “Brasileiros adotam apostas online como investimento e 14% da população utiliza aplicativos de bets para tentar ganhar dinheiro”. Essas manchetes mostram como as apostas esportivas e os jogos online se transformaram em uma febre na população brasileira. E as consequências negativas já assolam uma boa parte desses apostadores.
A íntegra da palestra do professor Eduardo
Nas consultorias de planejamento financeiro que faço para famílias e colaboradores de empresas, tem aumentado o número de endividados em função desses jogos. As pessoas começam a apostar na esperança de acumular algum dinheiro para realizar um objetivo ou mesmo quitar uma dívida. Muitos até ganham inicialmente, mas a maré de sorte acaba virando. E os prejuízos começam. Na esperança de reverter o resultado e diminuir os prejuízos, as pessoas apostam cada vez mais. Como não possuem mais recursos, começam a se endividar. Utilizam o limite do cartão de crédito, usam o limite do cheque especial e quando esses limites se esgotam, partem para empréstimos. Tenho acompanhado pessoas que acabam com dívidas que representam 30, 40 vezes a sua renda mensal. Só os juros para rolar essa dívida acabam consumindo a maior parte da renda mensal. Não sobra quase nada para as demais despesas da família, muito menos limite de crédito disponível.

As pesquisas mais recentes que indicam um enorme aumento em índices como os de ansiedade, depressão, automutilação, taxas de suicídio em jovens, distúrbios na alimentação e no sono, relacionam esses dados ao uso dos smartphones e redes sociais pela geração Z (para mais informações sobre essas pesquisas, recomendo o livro “Geração ansiosa” de Jonathan Haidt).
Pais e mães dos jovens de hoje procuraram proteger os filhos no mundo real e não no mundo virtual. Ao trocar a infância do brincar pela infância na frente das telas, inibimos as experiências reais e o aprendizado de importantes habilidades sociais, que são principalmente desenvolvidas em interações sociais ao vivo, como a empatia.
- a urgência de combater o vício em telas desde a infância, ao proporcionar mais brincadeiras livres e presenciais, sem recursos tecnológicos, em ambientes naturais.
- E, no caso de filhos já adolescentes, pais e mães são relembrados da urgência de supervisionar com quem e o que seus filhos estão acessando nas mídias sociais, sites, aplicativos etc. Existem meios de monitorar o que acontece nas redes sociais e isso não é invasão de privacidade e sim responsabilidade e cuidado.
E destaca: – Isso me leva a outra fundamental lição da série: a necessidade de estar presente na vida dos filhos para conhecê-los de verdade.
Conhecer e compreender seus filhos
Diz ainda que “os adolescentes não são “aborrecentes” ou simplesmente rebeldes – eles estão o tempo todo em busca do senso de pertencimento e do senso de importância – necessidades que todos nós temos. Sentir-se amado, ouvido, compreendido e aceito. Sentir-se útil, necessário e importante. Esses aspectos são imprescindíveis para todos os seres humanos. No caso dos adolescentes, como já foi mencionado, eles podem escolher tomar medidas extremas para poder se sentir dessa maneira. Portanto, outra grande lição da minissérie é ficar ainda mais atento aos sinais que nossos filhos estão nos enviando. Eles sempre, mesmo que inconscientemente, buscam pertencimento, amor e limites”.
No primeiro episódio, o policial só descobre que seu filho estava sofrendo bullying ao entrar na escola e observar o desrespeito tão presente naquele ambiente. É preciso investigar o porquê de o filho não quer ir para a escola, por exemplo. É preciso perguntar ao filho diretamente, e ouvir com atenção, foco e um verdadeiro interesse em conhecê-lo, para que ele não precise mentir e simular uma desculpa qualquer.
Os pais do Jamie não viram ele chegar na noite do crime: De onde ele estava vindo? Com quem esteve? Que roupa ele estava usando? O espectador fica sem saber o que ele fez com as roupas sujas de sangue – afinal, ele só poupou seus tênis caros…
Parar de focar na culpa, culpados e erros.
No último episódio, durante a conversa entre os pais do Jamie, eles se culpam pelo ocorrido: “Seria bom aceitarmos o fato que deveríamos ter feito mais.” A cena silenciosa final – do pai colocando o ursinho para dormir – mostra que não são necessárias palavras para imaginarmos a dor que esse pai está sentindo.
Não acho que a lição aqui seja o sentimento de culpa, vergonha ou tristeza dos pais. A principal lição desta minissérie é sobre a urgência de autoconscientização dos adultos responsáveis sobre a relevância do seu papel como exemplo de integridade para seus filhos. E, apesar do comportamento dos filhos não depender apenas da educação dada em casa, acompanhar e apoiar crianças e adolescentes é responsabilidade dos pais, escola e de toda sociedade.
A lição aqui não é passar a micro gerenciar cada passo ou interrogar os filhos desconfiando que estão sempre a cometer algo errado, mas é urgente aprender a comunicação empática com os filhos, demonstrar verdadeiro interesse pela vida deles e, principalmente, através de uma liderança com afeto e limites, deixar claro quão grande é o seu amor por eles. Chamamos isso de conexão. Aprender a criar vínculos fortes que resistirão aos muitos desafios da vida. O “gap geracional” pode tornar-se, na adolescência, um “abismo geracional” se não houver respeito mútuo e conexão entre pais e filhos. E não é sobre o que acontece na nossa vida, mas sobre como interpretamos o que acontece na nossa vida. Aprendemos a desenvolver resiliência, gratidão, habilidades de resolução de problemas entre outras pelo exemplo de adultos cuidadosos.
A boa notícia para quem está se perguntando “será que eu sei me comunicar e me conectar com o meu filho?” é que podemos desenvolver nossas habilidades parentais. Existem estratégias não-punitivas e não-permissivas que são encorajadoras, empáticas, respeitosas com todos e muito eficazes quando o objetivo é melhorar o relacionamento familiar. Recomendo buscar informações sobre criação de filhos com profissionais que tenham conhecimento teórico embasado em ciência e que saibam orientar que ferramentas parentais ajudam os pais a desenvolverem habilidades de vida nos filhos (tais como: resolução de problemas, cooperação, responsabilidade, autorregulação…). Todos queremos que o clima em casa seja saudável – que os filhos saibam que a verdade pode ser dita porque o ambiente familiar é um local seguro para conversar sobre sentimentos, desafios, erros. Os filhos podem, resolvendo problemas em família desde pequenos, aprender a fazer escolhas, tomar decisões e responsabilizar-se por elas.
O discurso parental mais comum é o sermão, bronca, crítica, humilhação – muitas vezes acompanhado de gritos e castigos. Mas também muitos pais foram para o outro extremo ao educar seus filhos, ao permitir que eles tenham uma liberdade excessiva, sem limites e responsabilidades. São esses que acreditaram que é isso que “bons pais” fazem: Tudo pelos filhos e para os filhos, superprotegendo, mimando, atendendo todos seus desejos (não estou falando de necessidades!). E tem os pais negligentes ou ausentes, que acham que basta levar na escola e alimentá-los. Não! É preciso primeiro aprender a conectar-se com eles para depois educá-los. Quanto antes essa conexão acontecer, mais forte ela será e poderá sobreviver aos mais desafiadores anos da adolescência.
Espero que tenha ficado claro para todos os espectadores dessa minissérie que não há uma solução mágica para evitar que as tragédias aconteçam. Só podemos fazer o nosso melhor: evitar ser autoritário, permissivo ou negligente; procurar exercer uma autoridade com firmeza e gentileza, com afeto e limites; aprender sobre as fases do desenvolvimento e sobre os efeitos em longo prazo dos diferentes estilos parentais; desenvolver nossas habilidades parentais, como autoconsciência, conexão e comunicação e principalmente, focar na melhora dos relacionamentos e não na perfeição – porque isso não existe.
Devo assistir à série com meu filho?
Recomendo que os adultos assistam antes e, dependendo das idades dos filhos, assistam novamente depois junto com eles com o objetivo de promover conversas e reflexões.
O impacto do filme em pré-adolescentes e adolescentes não será o mesmo que o impacto que vem causando em pais e mães – muitos pais me relataram a sensação de levar “um soco no estômago” ao assistir a minissérie. Cheguei a ouvir afirmações como “que bom que meus filhos já cresceram!”, e “se a adolescência dos meus filhos foi difícil sem esse vício em telas/mídias sociais e perigos da internet, imagina hoje!”.