Desafios do agronegócio são apontados por escritor
Wandell Seixas
O professor André Ricardo Passos de Souza, detentor de um invejável currículo acadêmico, concedeu entrevista exclusiva ao portal ABRINDO A PORTEIRA sobre os desafios próximos da cadeia da atividade agropecuária, ao lançar em Goiânia na noite de ontem, 18, o livro Direito do Agronegócio. Ao discorrer sobre os desafios, André Passos relacionou os estruturais e os conjunturais.
Segundo ele, “os desafios estruturais passam por investimento em logística, passam pelo Brasil conseguir romper barreiras mercadológicas impostas pela Europa, pela OMC enfraquecida, o multipolarismo enfraquecido pelas novas potências tendencialmente nacionalistas. Vide a reeleição de Trump, a eleição na Holanda, os conflitos que a gente assiste pelo mundo, a guerra da Ucrânia, a guerra da Palestina”.
Em sua opinião, “esses riscos são de ordem estrutural e que a gente acredita que no tempo eles acabem diminuindo. Os de ordem conjuntural, eles são mais complexos. Aí tem a questão da política monetária do governo. A gente está entrando aí até em uma situação, talvez, fiscal, cada vez mais periclitante.”
GOVERNO GASTA MAIS DO QUE ARRECADA
Para o professor da FGV, graduado em Direito pela UERJ, entre outros títulos, “o governo gasta mais do que arrecada. Isso vem acontecendo há tempos, reforça, para acrescentar que “o governo atual não gosta desse tipo de solução, ou seja, solução de fazer uma equalização fiscal e a gente está vivendo um momento complicado de domínio fiscal. Com isso, a política monetária acaba não sendo mais tão efetiva.” E deduz o que o agronegócio “pode prejudicar, obviamente, os custos financeiros do financiamento”.
Referindo-se ao Plano Safra, observa que a iniciativa envolve valores de R$500 bilhões “e a gente fala em um financiamento a mercado de mais ou menos um trilhão. É o último número na M3 dos registros de CPRs, títulos privados. CPRs, cédula de produto rural das trocas de insumos por produtos em produção.
“E, portanto, com taxas de juros em uma conjuntura mais adversa, você tem aí uma potencialidade de diminuição do crédito, problemas como restrições creditícias, de capturas de margens de produtores, de alguns negócios da cadeia ampla do agronegócio e que prejudica bastante o desenvolvimento”, observou.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS AFETAM AGRO
Discorrendo sobre as questões climáticas que prejudicaram a evolução da safra, demonstrou que foi “muito complicada a questão no Rio Grande do Sul”. O El Niño, la Niña, prejudicaram. Segundo o mestre, “até agora uma chuvinha está dando um refresco no Centro-Oeste, sobretudo na região de Cerrado, o que tem ajudado no interior de São Paulo”. Mas, ele vê um impacto direto, principalmente na produção no Centro-Sul de cana-de-açúcar, soja. Sua dedução é que algumas áreas podem sofrer uma diminuição da produtividade.
Outro fator de sua avaliação é o da “ordem conjuntural que mais ou menos está equalizado, que vinha até então, era o fator de eleições municipais e o fator de eleições internacionais. Hoje está definido Donald Trump nos Estados Unidos. Nos municípios brasileiros, na eleição municipal, o governo federal acabou sofrendo uma derrota acachapante, diria eu. Esse é o adjetivo mais correto”.
Segundo André Passos, “é urgente o governo ter outro olhar para essas políticas, principalmente, de equalização financeira e orçamentária. Trump, a gente já conhece. Talvez, AmericaFirst, uma restrição com a China, o que talvez, por incrível que pareça, seja um fator de favorecimento. De recuperação de algum preço da soja, do milho, no curto espaço. O boi tem recuperado espaço, graças a Deus. E quando a gente fala em boi recuperando espaço, a gente está falando mais investimento em gado, maior consumo de ração, enfim, toda uma cadeia que funciona.”
ANO DE 2025 COM NOVOS DESAFIOS
E prossegue: – Então, nesse resumo da ópera, nessa gelatina, nessa sopa de caldeirão de questões estruturais e conjunturais, eu vejo o seguinte: eu olho um 2025 com alguns desafios, alguns desafios de preço, alguns desafios de safra. Mas olho para frente uma questão estrutural, com a necessidade de alimentos do mundo, com a necessidade de equalização desses fatores de desordem internacional que passam por fornecimento de alimentos, energia limpa, a COP 29 que está acontecendo em Baku no Azerbaijão. E a próxima é aqui no Brasil, a COP 30. E a gente precisa aí tem um conserto mais importante das nações e conserto no nível de consertação mesmo. De ajuste, de alinhamento para que a gente possa ir também ter mudanças climáticas e outras questões que são consenso internacional e que o agronegócio brasileiro acaba representando uma solução muito relevante para isso.
No livro de sua autoria, o escritor fala disso. A obra trata da questão do agronegócio a partir da gestão, porém com um novo olhar da sustentabilidade e a próxima fronteira é essa, “a gente não só vender fibras, alimentos, energia limpa, sustentabilidade através dos produtos agroambientais. Eu acho que é o maior desafio do mundo e o Brasil está apto, o agronegócio brasileiro principalmente, a entregar aí com muita qualidade, como sempre entregou esses desafios”.
Foto: Hercy de Brito Seixas