Tendência

Imigração árabe: um certo oriente no Brasil

Os imigrantes árabes tinham origens as mais diversas: vinham do Líbano, da Síria, da Turquia, do Iraque, do Egito ou da Palestina. Assim, constituíam-se de povos diferentes, que, com suas respectivas organizações políticas, compartilhavam fundamentos comuns: a língua, ou os dialetos derivados do árabe, e a cultura.

Veja entre os temas a seguir, os vários aspectos da imigração árabe.

Razões da emigração árabe

Os povos árabes emigraram, basicamente, por motivos religiosos e por motivos econômico-sociais ligados à estrutura agrária dos países de origem.

Motivos religiosos

No Império Otomano de fé islâmica, as comunidades cristãs da Síria, Líbano e Egito foram não somente perseguidas pelos mulçumanos, como passaram por severos sofrimentos infringidos pelos turcos.

O maior contingente de imigrantes, portanto, é de cristãos, vindos em grande parte do Líbano e da Síria. São bem menores as levas saídas de outros pontos do antigo Império Otomano, como Turquia, Palestina, Egito, Jordânia e Iraque.

Motivos econômico-sociais

Ao lado do problema religioso, a escassez de terras foi um fator importante de estímulo à emigração. A propriedade de pequenos lotes de terra arável, onde o trabalho era feito pelo núcleo familiar, começou a sofrer limites para a partilha entre os filhos, uma vez que o parcelamento chegara ao ponto de não mais suprir o sustento de novas famílias. Diante desta realidade, à população pobre restava apenas a busca, em outras terras, das condições de sobrevivência.

Entre 1871 e 1900, apenas 5.400 pessoas tinham aportado no Brasil, transplantando consigo suas diferenças religiosas, presentes em algum grau em 95% dos imigrantes.


João José Rescala

Desembarcados no Rio ou em Santos, a opção de trabalho das primeiras levas de imigrantes foi o comércio. Embora pobres e, em geral, afeitos ao trabalho agrícola, poucos foram os árabes que, após o desembarque, optaram pela agricultura. A miséria da população rural e o sistema de compra vinculado ao proprietário da terra afastaram esses imigrantes do trabalho no campo.

Na cidade de São Paulo, na década de 30, eles se concentravam nos Distritos da Sé e Santa Ifigênia, ou seja, entre as ruas 25 de Março, da Cantareira e Avenida do Estado; no Rio de Janeiro, ocorreu um processo de concentração semelhante nas áreas cobertas pelas ruas da Alfândega, José Maurício e Buenos Aires.

Os mascates: origem do comércio popular

Quando chegaram os árabes, já existiam mascates portugueses e italianos, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro. Entretanto, a mascateação se tornou uma marca registrada da imigração árabe. Nesta atividade, esses imigrantes introduziram inovações que, hoje, são vistas como traços típicos do comércio popular: redefiniram as condições de lucro; introduziram as práticas da alta rotatividade e alta quantidade de mercadorias vendidas, das promoções e das liquidações.

Estas inovações revelam o aspecto definidor da versão árabe da mascateação: o interesse pelo consumidor.

Nos primeiros anos de atividade, os mascates, em visita às cidades interioranas e, principalmente, às fazendas de café, levavam apenas miudezas e bijuterias. Mas, com o tempo e o aumento do capital, começaram também a oferecer tecidos, lençóis, roupas prontas, dentre outros artigos.

Conforme acumulavam os ganhos, os mascates contratavam um ajudante ou compravam uma carroça; o passo seguinte era estabelecer uma casa comercial, sendo o último passo a indústria.

Do comércio para a indústria

Em São Paulo e no Rio de Janeiro, o comércio árabe imprimiu um caráter popular na paisagem de algumas áreas da cidade.

Em 1901, na capital paulista, já eram mais de 500 casas comerciais na região. Seis anos depois, um levantamento indicou que de 315 firmas de sírios e libaneses, 80% eram lojas de tecidos a varejo e armarinhos. A eclosão da I Guerra Mundial aumentou os lucros do comércio e da indústria com a interrupção da importação dos produtos europeus.

No Rio de Janeiro, a abertura da avenida Presidente Vargas na década de 40, obrigou muitos dos comerciantes a abandonar o quadrilátero próximo à praça da República, mudando-se para a Tijuca.

Como na rua 25 de Março, em São Paulo, o comércio da rua da Alfândega ficou conhecido pelo seu caráter popular. Em 1962, foi fundada a Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega – SAARA, cuja sigla serviu como uma luva para o tipo de comerciante ali estabelecido.

O sucesso mais ostensivo dos imigrantes árabes foi a sua entrada no setor industrial, o que ocorreu, principalmente, nas duas primeiras décadas do século XX, quando deslanchou o processo de substituição das importações através da industrialização. Um caso significativo desse sucesso é o da família Jafet.

A religião e a vida social dos imigrantes

A origem religiosa e regional foram os eixos de estruturação da vida social da colônia sírio-libanesa. As diferenças religiosas entre esses imigrantes teve forte influência sobre a formação de redes de associações comerciais, religiosas, culturais e beneficentes.

Associações religiosas

Em São Paulo, desde 1890 a comunidade maronita vem realizando suas celebrações litúrgicas. A primeira igreja foi erguida no Parque D. Pedro, nas proximidades da rua 25 de Março, tendo sido destruída nas obras de reurbanização do local. Em 1897, já se haviam instalado no país as Igrejas Ortodoxa e Melquita.

Somente em 1942, a Sociedade Beneficente Muçulmana, lançou a pedra fundamental para a construção de uma mesquita na avenida do Estado. Explica esta iniciativa tardia, se comparada às anteriores, o tamanho reduzido do grupo muçulmano: não mais do que 3.053 membros, sendo que desses, 1.393 estavam em São Paulo e 767 no Rio de Janeiro, conforme registra o Censo Demográfico de 1940.

Movimento associativo

Os movimentos associativos tiveram como elementos aglutinadores primários a religião e a origem dos imigrantes. Isto explica, em grande parte, as divisões dentro da própria colônia sírio-libanesa, sendo impossível organizar uma sociedade que  representasse toda a colônia. Eram muitas as diferenças religiosas, bem como acirradas as rivalidades regionais e de famílias.

O movimento associativo expandiu-se depois de 1903, quando foram identificadas: em São Paulo, 4 associações no Rio de Janeiro, 3, além da Sociedade São Nicolau, da Irmandade Maronita e da Sociedade Patriótica Homciense, ligada à aldeia de Homs.

Esses números foram se multiplicando até atingirem a cifra de 121 entidades, apenas na capital de São Paulo, e outras 60 no interior do Estado.

As diferenças afloraram também nas associações esportivas ou beneficentes. Quando da fundação do Esporte Clube Sírio, em 1907, os libaneses tentaram judicialmente colocar o nome do país. Na impossibilidade, fundaram o Clube Atlético Monte Líbano. O Hospital Sírio-Libanês começou como Hospital Sírio. Contudo, as diferenças entre os grupos étnicos fizeram com que os sírios se retirassem da Sociedade Beneficente de Damas Pró-Hospital Sírio-Libanês, partindo para a fundação do Hospital do Tórax, atual Hospital do Coração.

Jornais e periódicos em geral

Os periódicos se multiplicaram atendendo às diferenças religiosas e rivalidades de grupos.

Entre 1895 e 1971, foram publicados cerca de 160 periódicos dirigidos à colônia sírio-libanesa.

Em 1971 havia em São Paulo: um jornal publicado duas vezes por semana; três semanários; três mensários; uma livraria especializada, aberta em 1902; 14 tipografias especializadas.

Em 1941, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) proibiu a circulação de qualquer publicação em língua estrangeira e não se sabe o número dos periódicos que voltaram a ser publicados em português.

A escola

A educação escolar sempre foi incentivada entre os sírios e libaneses, sendo que, em 1897, já havia uma Escola Sírio-Francesa (Maronita) em São Paulo. Nos anos seguintes, foram fundados na capital paulista o Ginásio Oriental (1912), o Colégio Sírio-Brasileiro (1917), o Colégio Moderno Sírio (1919) e o Liceu São Miguel (1922). No Rio de Janeiro, foi fundada a Escola Cedro do Líbano, em 1935, e, em Campos, a Escola Árabe.

Quanto à escolaridade de nível superior, principalmente, nos campos das profissões liberais como advocacia, medicina e engenharia, os árabes conseguiram atingir percentuais próximos aos de outras colônias estrangeiras mais numerosas. Neste nível de escolaridade, o investimento familiar privilegiava os homens. Há relatos de casos de famílias em que o sacrifício para a formação de “doutores” foi muito grande. Por outro lado, as mulheres não recebiam incentivo para se profissionalizarem, limitando-se, na maioria dos casos, à obtenção do diploma.

Contribuição cultural e política

Nas últimas décadas, a contribuição cultural dos árabes tem sido mais lembrada pela culinária, embora haja outros campos em que sua presença é marcante.

O aumento das cadeias de fast-food nos grandes centros urbanos aproximou a população do quibe, da esfiha, do tabule e da coalhada seca, antes circunscritos aos restaurantes típicos. A popularização, sobretudo, do quibe e da esfiha, fez com que fossem incorporados a outros estabelecimentos de alimentação, como as tradicionais pastelarias chinesas, e mesmo bares e padarias de portugueses e brasileiros.

Na literatura, fazendo parte do panorama cultural do país, pode-se citar, dentre outros, Jamil Almansur Haddad (São Paulo, 1914), Mário Chamie (Cajobi, 1933), Raduan Nassar (Pindorama, 1935) e Milton Hatoum (Manaus, 1952).

No cinema brasileiro, ficou famosa a filmagem do libanês Abrão Benjamin. Após dificultosas e delicadas gestões, conseguiu filmar o bando do cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião. Encaminhado para censura no Departamento de Propaganda, no Rio de Janeiro, a iniciativa pioneira foi vista com desagrado, proibindo-se o filme, cujos fragmentos foram resgatados somente na década de 60. O fotógrafo Benjamin virou tema central de uma película recente sobre o cangaço, Baile perfumado. Outros nomes de destaque nas décadas de 50 e 60 são o de Walter Hugo Khouri e Arnaldo Jabor.

A Universidade é o local onde os nomes de origem síria e libanesa têm se mostrado mais evidentes em conseqüência do incentivo à educação, como já foi citado anteriormente. Profissionais nas áreas da Medicina, como Adib Jatene (Xapuri, Acre); no Direito, Alfredo Buzaid (Jaboticabal, 1914); na Filosofia, Marilena Chaui (São Paulo, 1941); na Sociologia, Aziz Simão (São Paulo); na Filologia, Antonio Houaiss (Rio de Janeiro, 1915-1999), entre tantos outros, indicam a notável contribuição das gerações crescidas com o país que os recebeu.

Na política, a inserção dos imigrantes árabes guarda algumas características particulares: é relativamente recente. Em São Paulo, começou depois do Estado Novo (1937-45) e se resumiu aos membros da colônia pertencentes às camadas médias ou à elite econômica, com expressiva participação de candidatos com carreiras iniciadas em cidades do interior; tem uma representação parlamentar ou em cargos dirigentes numericamente significativa, levando a uma sobre-representação da colônia sírio-libansesa; os participantes estão vinculados, especialmente, a partidos de caráter conservador ou populista.

Árabes em Goiás – 25 de Março é o Dia da Comunidade Árabe no Brasi

Os primeiros imigrantes árabes vieram para o Brasil no final do século 19 e no início do século 20. A grande maioria foi para São Paulo, mas Goiânia também se tornou uma segunda casa para a comunidade que saiu do Oriente Médio. Como os imigrantes vêm para o Brasil para melhorar a qualidade de vida, na maioria das vezes, eles se tornam comerciantes ou se dedicaram aos estudos

O documentário Nossa Pátria, Os Árabes em Anápolis, retrata como os imigrantes sírios e libaneses vieram para o Brasil e sua chegada até a cidade de Anápolis. O filme traz histórias de vida de imigrantes e descendentes que desbravaram o sertão goiano em busca de uma vida melhor, para ele e os familiares que vieram em seguida.

São mostrados também os filhos desses imigrantes que já nasceram no Brasil e ajudaram a construir a cidade de Anápolis, como eles mantêm viva a descendência e revivem com orgulho a origem e os costumes de seus ancestrais.

A proposta do documentário também foi a de divulgar a cultura árabe que fez e faz parte da formação histórica, tanto na culinária, dança, costumes e na forma religiosa.

Fonte: © 2025 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Botão Voltar ao topo