MESTRE MENDES CONTA COMO SE PRODUZ UMA BOA CACHAÇA

O mestre alambiqueiro da Saliníssima: Lucas Mendes
Lucas Mendes é o mestre alambiqueiro das cachaças Saliníssima e Tábua e nos contou um pouco da sua trajetória na produção que começou com o avô Olímpio, e como trocou o seminário pelo alambique.

O mestre alambiqueiro José Lucas Mendes é quem está por trás da produção de uma das mais tradicionais cachaças da região de Salinas, no norte de Minas Gerais: a Tabuá. E, desde 2016, em parceria com a empresa Natique Osborne, Lucas é também o mestre alambiqueiro responsável pela linha de cachaça Saliníssima. Na década de 1930, Olímpio Mendes de Oliveira iniciou na fazenda Matrona, em Taiobeiras, na microrregião de Salinas, uma pequena produção de cachaça.

Olímpio começou com a plantação de cana de açúcar, no qual a colheita era destinada para a produção de rapadura e cachaça. A rapadura era comercializada aos sábados na cidade, enquanto a cachaça era engarrafada à mão e vendida para os funcionários da fazenda, vizinhos e amigos. Posteriormente, Alfredo Mendes de Oliveira, filho do Seo Olímpio, assumiu o transporte e moagem da cana, enquanto o pai se dedicava à fermentação e alambicagem da cachaça.

Em 2003, com a morte de Olímpio, José Lucas, da terceira geração da família, deixou de lado a ideia de entrar para o seminário e assumiu a responsabilidade de continuar a tradição local. Motivado pelo crescimento do mercado, Lucas investiu na construção de uma nova destilaria e na marca Tabúa – nome inspirado na planta que cresce nas áreas alagadas da região.
 Do seminário para o alambique

Enquanto crescia vendo pai e avô se dedicarem à produção de cachaças, talvez Lucas Mendes nunca tenha imaginado que poderia seguir a profissão de cachaceiro.O atual mestre alambiqueiro entrou para o seminário dos padres Camilianos em 1989, queria vestir a batina. Estudou por 10 anos teologia e filosofia, ademais deu aulas por dois anos. Mas em 2003, rompeu com a ideia de seguir com a carreira religiosa para se dedicar aquilo que lhe era tão natural desde a infância, tanto por vocação familiar como pelo costume local: a produção de cachaça de alambique. Primeiramente fez um curso de mestre alambiqueiro em Itaverava – MG, perto de São João Del Rey, e também trouxe modernização para a estrutura do engenho, mas sem perder a essência artesanal da produção implantada pelo avô. Na época, Lucas Mendes pôde contar com a assessoria de um dos grandes estudiosos de cachaça, o Eduardo Gravatá, porém garante que muito do que ele sabe é mesmo da convivência com pai e avô.por-do-sol-cachaca-salinissima-mg-optimized.webp
Características do terroir de Salinas

A região de Salinas é internacionalmente reconhecida pela produção de uma cachaça com identidade própria. A produção artesanal é forte no município e a Indicação Geográfica (IG), reforça esse cenário. Segundo Lucas Mendes, ele acredita que existe um terroir específico para a cachaça de Salinas.Primordialmente a começar pela sabor da cana e a região onde ela é plantada. Para produção de cachaça são utilizadas variedades de cana-de-açúcar que por séculos se desenvolveram na região.Identificamos nos arredores de Salinas cerca de dez variedades tradicionais de cana utilizadas exclusivamente para produção de cachaça, entre elas a uva, a java e a caiana.

Por conta do clima semiárido, com pouca umidade e baixo índice pluviométrico, essas espécies apresentam alto teor de sacarose, o que configura um percentual brix elevado, entre 21 a 26% (escala utilizada na indústria de alimentos para medir quantidade aproximada de açúcares). A fermentação, que segue a Escola Caipira, é também ponto-chave para trazer um aroma e sabor específicos para as cachaças produzidas na região. Durante o processo de fermentação são utilizadas leveduras selvagens e fubá de milho para transformar o caldo de cana e vinho – e criar os aromas predominantes da bebida que serão definidos na posterior destilação. salinissima-salinas-natique-cachaca-optimized.jpg
As cachaças da Saliníssima

A cachaça Saliníssima preserva em sua composição toda a tradição de Salinas em duas versões: A Saliníssima Prata é a versão pura, que não passa da madeira, e apresenta toda a identidade da Escola Caipira de produção, destacando os aromas primários e secundários da cana e da fermentação caipira, respectivamente. Para o processo de produção da Saliníssima Ouro, Lucas Mendes utiliza três bálsamos para o envelhecimento da aguardente. A cachaça é um blend formado por cachaças jovens misturadas com cachaças de vários anos (uma média de 2 anos, mas podendo chegar até 10 anos de envelhecimento). A mais recente da linha é a Saliníssima Amburana, lançada em 2023. A cachaça é armazenada por um ano e 6 meses em barris da madeira brasileira popular no norte de Minas Gerais.
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