Pecuarista defende bem-estar animal em documentário, divulgado em Goiânia

Wandell Seixas
A pecuarista Carmen Perez, da Agropecuária Orvalho das Flores (MT), defende com veemência a criação tomando por base o bem-estar do rebanho bovino e eqüino. Manifestou-se contrária à marcação a fogo, uma judiação que precisa ser contida, substituindo por tatuagens e brincos de identificação e bottons eletrônicos, que minimizam o sofrimento e o stress do animal.
A agropecuarista lançou, ontem à noite, no Teatro Cultura Oscar Niemeyer de Goiânia, “Um Outro Olhar”, documentário de 70 minutos em propõe responsabilidade e sensibilidade para com os animais. Segundo Carmen, os criadores precisam orientar os que trabalham nas fazendas a oferecerem a eles um tratamento digno.
Aos 43 anos, a pecuarista é uma referência em técnicas de bem-estar animal. Além de palestras e uma constante presença nas redes sociais e mídia, Carmen também fez parte do projeto do livro lançado em 2019 “O Bem-Estar Animal no Brasil e na Alemanha: Responsabilidade e Sensibilidade”, obra bilíngue da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, editado pelo professor Mateus Paranhos da Costa, do departamento de zootecnia da Unesp e coordenador do Grupo Etco, um dos mais importantes centros de estudo sobre o tema, presente também em Goiânia.
O documentário contou com a presença de empresários e lideranças do segmento agropecuário. O presidente da Associação Goiana dos Criadores de Zebu (AGCZ), Luciano Bonfim, achou válido o filme por cobrar “melhor reflexão” quanto o tratamento dos rebanhos. E assinala, ainda, a oferta de água abundante e de boa qualidade. Concorda com Carmen na marcação a fogo. “Precisamos pensar em algo diferente”, observa. O criador de gir leiteiro acrescenta também a necessidade de sombreamento, melhoria alimentar, controle das doenças infecciosas e parasitárias. Treinamento do pessoal de lida, sem gritaria e ferrão.
Carmen trabalha, desde seus 22 anos, com a criação de bezerros. Começou acompanhando seu tio e, com latente obstinação, não permitiu que a família vendesse as terras. Insatisfeita com o sistema vigente na propriedade – considerado bruto demais por ela à época – agora, levantava a bandeira e assumia o compromisso de buscar alternativas lucrativas, porém respeitosas para com a vida dos animais, como ela mesma explica: “Quando eu tinha 22 anos, eu tive o privilégio de ouvir a voz da terra e isso me fez começar um movimento de transformação e de evolução da minha fazenda”.
Os desafios começavam a se multiplicar. Foi quando encontrou a ciência do bem-estar animal e também o professor Mateus Paranhos da Unesp de Jaboticabal. Carmen sabia que ali estava a sua missão e, por meio dos ideais do bem-estar animal, ela conseguiria deixar sua marca no mundo “Nos últimos dez anos, o que as pessoas mais me perguntam é como eu transformei tudo isso por meio do bem-estar dos animais”, comenta a pecuarista. O trabalho foi árduo e gradual: dia após dia, de “manejo em manejo”, com calma, foi vencendo etapas e construindo sua história que inspira muitos produtores.
Hoje se dedica trabalhando diariamente em técnicas que promovam o bem-estar das pessoas que trabalham com ela e dos animais criados na propriedade. Podemos citar como exemplo as últimas pesquisas, que estão sendo feitas sobre a massagem em bezerros, logo no nascimento, criando uma conexão positiva logo nos primeiros dias de vida.
Além dos resultados concretos que Carmen obtém em sua propriedade, o impacto de seus esforços podem ser sentidos com outros produtores que se sensibilizaram com os ideais dela “O legal, é que muitos, ao ouvirem a minha história, também começaram suas próprias jornadas de transformação”, comemora.