Santa Brígida: uma fazenda que surpreendente em tudo que faz, ênfase para o meio ambiente
A Fazenda Santa Brígida, situada no município de Ipameri, a cerca de 200 km de Goiânia, detém uma página na história agropecuária de Goiás e, por extensão, do Brasil. É de causar inveja a gringo americano pela maneira como produz. Em quatro mil hectares, produz de maneira integrada grãos [soja, milho, sorgo e girassol], bovinocultura de corte e floresta plantada de eucaliptos para obtenção de madeira.
Sua proprietária, Marize Porto, assumiu a operação em 2006 em uma realidade bem diferente, marcada por pastagens degradadas e uma atividade pecuária de baixa produtividade. Pois bem, nesta semana transcorreu um dia de campo. O detalhe: a presença de crianças, os adultos de amanhã, que precisam seguir, se forem produtor rural, os caminhos da sustentabilidade. E ajudar, acima de tudo, a conservar a natureza.
Uma explicação foi dada a esses garotos: a preservação envolve, além dos eucaliptos, as plantações e o rebanho, a água e a floresta.
Em pouco mais de quinze anos, a mudança foi total, com ganhos de rendimento na bovinocultura, por exemplo, onde a produção de carne saltou de 75 quilos por hectare para 942 kg/ha em 2023. Em grãos, a produtividade média da soja aumentou de 2,7 toneladas por hectare para 4,4 t/ha e no caso do milho subiu de 5,4 toneladas por hectare para 11 t/ha no mesmo intervalo, informa a Rede ILPF.
“A integração lavoura-pecuária-floresta significa a emancipação do produtor. De que forma? Porque tem uma renda de curto prazo, que são as lavouras de cereais. Tem o gado no médio prazo e o componente florestal no longo prazo”, ressalta, em nota, o presidente-executivo da Rede ILPF, Francisco Matturro.
MARIZE, QUE HISTÓRIA
A história de Marize com a Fazenda nasceu de uma tragédia. Em 2002, com três filhos menores de idade, perdeu o marido ainda muito jovem. De uma hora para outra, ela que morava em Campinas (SP), era ortodontista e professora da disciplina nas faculdades da área, se viu dona de um haras a 676 quilômetros de sua casa. Sem entender nada dos negócios do campo, a saída foi entregar a gestão da propriedade a uma pessoa de confiança. Assim foi feito. Com o passar do tempo, no entanto, algumas informações de que a fazenda não ia bem foram chegando até que em 2006, ao chegar no local e ver a situação da fazenda, resolveu assumir a administração de sua propriedade.
Dentre as primeiras iniciativas que tomou foi conversar com vizinhos para entender como poderia começar o trabalho. O primeiro passo seria recuperar a pastagem. De boca em boca foi ouvindo soluções que invariavelmente chegavam ao gerente do banco. “Era tudo muito caro, eu não tinha dinheiro, ninguém no banco me conhecia e o ciclo do empréstimo era mais curto do que o da engorda do boi. A conta não fechava”, disse Marize. Sem saber a quem mais recorrer, lembrou de um escritório da Embrapa na região. Pegou o carro e foi bater lá. Deu de cara na cancela. “Eu nem sabia que era preciso agendar um compromisso. Foi quando, ali mesmo, lembrei que um tio já falecido conhecia alguém na Embrapa”, afirmou. Depois de um breve telefonema para tia, ainda de dentro do carro, falou para o segurança que queria falar com o Homero Aidar. Por sorte, ele estava lá e a recebeu.
SUSTENTABILIDADE
Assim começava efetivamente o caminho da Fazenda Santa Brígida rumo à sustentabilidade. Por orientação de Aidar e do pesquisador João Kluthcouski, o João K, ela descobriu que se plantasse grão integrado com capim, o pasto sairia de graça, pois o dinheiro da colheita pagaria o capim. Foi então que ela pegou umas reservas e investiu em fertilizante que precisava ser pago à vista e antecipadamente. “Quando me perguntavam qual a área que eu ia plantar, eu respondia: a área que o fertilizante der”, afirmou. Sem maquinário, funcionários ou conhecimento fez uma espécie de escambo com o vizinho: em troca do arrendamento de uma área da Santa Brígida ele faria da plantação à colheita. No primeiro ano, plantou arroz, soja e milho em cerca de 200 hectares. “Tive sorte de principiante, vendi o arroz muito bem e no fim da primeira safra aconteceu o que o Aidar havia falado: eu tinha dinheiro no bolso e pasto de graça”, afirmou.
Experimentando pela primeira vez os benefícios de projetos sustentáveis no campo, Marize viu no caminho uma possibilidade de diferencial. Foi então que ainda no terceiro ano no comando dos negócios decidiu investir na floresta de eucalipto. “A árvore era conhecida, vendia bem e me possibilitaria fazer um corte cedo [3 anos] para vender como combustível e gerar fluxo de caixa, um corte tardio [6 anos] para construção civil e ainda fiz uma fileira com tempo de corte maior para ser usada como matéria-prima pela indústria moveleira”, afirmou. Além da receita extra que melhorou a rentabilidade da fazenda como um todo, ao integrar lavoura-pecuária-floresta foi possível dar mais conforto aos animais e proteção climática aos pastos e lavouras contra o forte calor do cerrado goiano. Retorno direto e indireto.
Com o modelo, os resultados e rentabilidade da Santa Brígida superaram as perspectivas mais otimistas da empresária. Em soja, a produtividade subiu de 39 sacas para 80 sacas por hectare. Após a primeira safra, entrava a safrinha de milho em uma área, e quatro mil cabeças de gado, na outra. Na área total de três mil hectares, ainda são plantados girassóis, sorgo, o próprio eucalipto e, mais recentemente, a uva do cerrado.
TECNOLOGIA Apesar de toda a história de superação, um fato ainda afligia a proprietária. Como gosta de dizer, ela produzia sustentabilidade, mas não a vendia. No fim das contas, o gado ou os grãos tinham o mesmo valor de mercado de quem fazia tudo sem responsabilidade com o meio ambiente. Foi quando passou a investir ainda mais em tecnologia com o objetivo de ter números tanto para melhorar a gestão, como para comprovar o trabalho. Todas as máquinas da fazenda foram modernizadas para se comunicarem diretamente com softwares enviando informações sem interferência humana sobre a colheita. Até na pecuária, Marize aumentou a digitalização. Hoje uma balança de passagem está colocada na entrada da praça de alimentação. Toda vez que o animal sai ou entra, o chip preso em sua orelha e a balança se conectam enviando aos computadores informação sobre o animal, seu peso, o horário de entrada e saída da praça.
O golpe de mestre nesta jornada aconteceu recentemente quando a Fazenda Santa Brígida passou por um processo de auditoria que lhe rendeu o primeiro título de Fazenda Sustentável auditada pelo TrustScore, solução contratada pela Rede ILPF. Desenvolvido pela consultoria independente Ceptis Agro, o sistema serve especificamente ao agronegócio com o objetivo de mensurar os níveis de sustentabilidade no campo de forma contínua.
“Para obter credibilidade nacional e internacionalmente é preciso quantificar resultados de qualquer decisão no campo do ponto de vista social, ambiental ou econômico”, afirmou José Pugas, sócio da Ceptis Agro. No TrustScore do Agro, 124 critérios são avaliados, a maioria deles automaticamente em tempo real e via satélite, gerando uma pontuação e relatórios semanais sobre a propriedade. “Dessa forma reduzimos a burocracia e também os riscos embutidos em certificações obtidas com base da auto-declaração”, disse Puga. Na Agronomia 5.0 tudo será cada vez mais planejado, mensurado e tratado com transparência, ainda mais quando se tratar de sustentabilidade.
OBS: para a elaboração desta matéria foram usadas diferentes fontes e autores.