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Supersafra de soja expõe gargalo de armazenagem e caminhões para o escoamento

Wandell Seixas

O Brasil se prepara para enfrentar um dos maiores desafios do agronegócio em 2025: uma supersafra de soja sem infraestrutura suficiente para armazená-la e, sobretudo, falta de caminhões para o escoamento. A previsão da safra 2025 é que o País supere os 170 milhões de toneladas de soja. Com uma defasagem de 50% na capacidade de armazenamento, produtores serão forçados a tomar decisões críticas para escoar sua produção.

Mas, os gargalos não param na falta de armazéns, é também agravado pelos fretes, devido à carência do diesel que encareceu e o escoamento com a crise dos caminhoneiros. É o que aponta Dirceu Borges, superintendente do Senar – Goiás, vinculado à Faeg. O presidente do Sistema Transporte da CNT, Vander Costa, confirma que o “Brasil enfrenta preocupante escassez de motoristas de caminhão. Isso afeta o transporte rodoviário de cargas e levanta questões sobre os desafios da logística e as condições do mercado de trabalho”.

Os caminhões desempenham um papel significativo na logística e no transporte de cargas no Brasil. Eles são responsáveis por movimentar mais de 60% das mercadorias no país através do transporte rodoviário, segundo a Confederação Nacional dos Transportes. Essa capacidade é vital para várias indústrias, incluindo agricultura, mineração e comércio.

Associação Regional dos Caminhoneiros do Centro-Oeste (ARCCO), por sua vez, observa que essa carência não apenas impacta a logística das empresas, mas também prejudica a economia, visto que pode gerar atrasos e aumentar os custos operacionais. “Muitos motoristas enfrentam condições de jornadas exaustivas, com longas horas de trabalho e baixo reconhecimento, o que leva a uma falta de atratividade na profissão”, assinala.

A baixa remuneração é uma das principais causas da escassez de motoristas de caminhão. Muitas vezes, o salário não compensa o desgaste e os riscos da profissão, e isso desestimula novos motoristas. Essa questão é agravada por condições de trabalho precárias, como falta de infraestrutura adequada de estradas e questões de segurança, como a ocorrência de assaltos e roubos de carga.

Armazenagem

Quanto ao problema da armazenagem, considerado de suma importância num Estado como Goiás, André Lins, vice-presidente de Agro da Alper Seguros, revela que “o espaço físico não atende a armazenagem necessária e essa limitação, pode impactar na cadeia produtiva e ocasionar perdas financeiras aos produtores”.

De acordo com o mais recente levantamento da Conab, o Brasil produziu aproximadamente 155,4 milhões de toneladas de soja na safra de 2023/2024. Para 2025, as projeções indicam um crescimento significativo na produção, o que pode intensificar ainda mais o desafio logístico.

A expectativa da supersafra, aliada a alta dos juros e questões geopolíticas, influenciará no preço da soja, adicionando complexidade ao cenário. “O que acontece?”, questiona André Lins, “se o produtor está no limite da armazenagem, ele aumentará proporcionalmente a sua exposição e o seu risco até o momento da venda e escoamento de toda sua produção”.

O cenário internacional também influencia essa dinâmica. Com a China comprando 50% de sua soja e possíveis desacordos comerciais com os Estados Unidos, a demanda pela soja brasileira deve aumentar, intensificando ainda mais a pressão sobre a infraestrutura atual.

            As consequências vão além da gestão de armazenagem. Será necessário aumentar os limites do seguro, para proteger a supersafra. No entanto, os produtores deverão estar cientes da necessidade de mais investimentos em infraestrutura e protecionistas de segurança para eventos como incêndio e explosões causadas pelo pó da soja. Explosões, aliás, são um risco adicional destacado por Lins, causada pelo contato a poeira da soja com oxigênio, o que demanda cuidados especializados no armazenamento.

 Diante desse cenário, produtores precisarão repensar na infraestrutura e estratégias de comercialização. “Muitos podem ter a falsa sensação de que somente estocar a soja basta para a proteção dos seus ativos, porém o seguro continua sendo uma ferramenta fundamental para a sua proteção patrimonial e manutenção da sua operação”, sinaliza Lins.

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