Custos de alimentação animal assustam produtores
Wandell Seixas
Os pecuaristas encontram-se assustados com a alta dos preços dos alimentos dos animais em novembro. A reação é manifestada em Goiás e demais estados que criam gado e outros animais. O Índice de Custo Alimentar Ponta registrou R$ 15,05 no Centro-Oeste, e R$ 12,43 no Sudeste. Comparado a outubro de 2024, o ICAP registrou aumento de 1,01% no Centro-Oeste e 4,54% no Sudeste. Esse movimento reforça a tendência de elevação nos custos de alimentação animal, impulsionada pelo reaquecimento do mercado de pecuária de corte.
Além da alta demanda global por proteína animal, que estimula a produção e o consumo de insumos no Brasil, a exportação aquecida de milho e soja segue reduzindo a oferta doméstica, encarecendo os preços. O índice é da Ponta, empresa de tecnologia focada na gestão da informação e da precisão na pecuária, responsável pelo gerenciamento de informações de mais de sete milhões de cabeças por ano em todos os sistemas produtivos.
Gilson Costa, produtor de leite em Itaberaí, disse que seu rebanho se alimenta de concentrados e capim. Ele sentiu no bolso a queda nos preços do leite na plataforma das usinas. “O crucial mesmo está sendo a falta de mão de obra, sobretudo qualificada”, aponta. Silvestre Coelho, da Associação Goiana do Nelore (AGN), mostra preocupação com a alta do dólar em relação ao real. “Os insumos em grande parte são importados” e é bom lembrar ainda que o Trump ameaça represália ao Brasil na área comercial.
Amarildo Pires, da Estância Tamburil em Bela Vista de Goiás, que produz as maiores campeãs nacionais de produção leiteira, considera que os “custos estão muito altos”. E chama a atenção para os preços do milho e da soja. A exemplo de Silvestre, Amarildo entende que “a alta em função do dólar consome nossa margem no negócio”.
No Centro-Oeste, o aumento foi atribuído à elevação dos custos em todas as dietas de confinamento: adaptação, crescimento e terminação. O custo por tonelada de matéria seca da dieta de terminação chegou a R$ 1.384,41, aumento de 24,62% em relação aos últimos três meses. Entre os principais insumos utilizados destacam as altas na uréia (+13,55%), milho grão seco (+10,67%) e torta de algodão (+3,34%).
No Sudeste, o ICAP foi impactado especialmente pelos insumos energéticos, que subiram 9,30% nos últimos três meses. O custo por tonelada de matéria seca da dieta de terminação atingiu R$ 1.292,65, alta de 20,93% em relação ao trimestre anterior. Os insumos energéticos com maior alta foram o milho grão seco (+8,35%), casca de soja (+8,13%) e silagem de grão úmido de milho (+6,45%). No caso dos insumos protéicos, os maiores aumentos ocorreram na uréia (+10,20%) e no caroço de algodão (+7,26%).
Porteira dentro e fora
Ao comparar outubro de 2024 com outubro de 2023, o custo de engorda cresceu 0,27% no Centro-Oeste, enquanto o Sudeste registrou redução de 6,89%. Em novembro de 2024, a valorização do mercado foi sustentada por exportações recordes de carne bovina. “Para 2025, espera-se uma leve acomodação nos preços devido ao aumento na oferta de gado de confinamento e ajustes nas escalas de abate. O comportamento do mercado dependerá, entre outros fatores, da recuperação do consumo interno e de novas oportunidades no exterior. A relação de troca entre boi gordo, boi magro e insumos, como milho, continuará sendo crucial para o equilíbrio de preços e a viabilidade da atividade”, avalia Paulo Dias, CEO da Ponta Agro.
Apesar do aumento nos custos, a valorização da arroba do boi gordo tem aliviado os pecuaristas. “Ainda assim, confinadores devem redobrar a atenção aos indicadores de gestão, pois os custos tendem a subir com a especulação no médio prazo. Desta forma, a lucratividade continuará sendo garantida da porteira para dentro”, explica Dias. Utilizando o ICAP do último mês, é possível estimar o custo da arroba produzida e prever a lucratividade do pecuarista.
A estimativa desse custo toma como base os valores médios observados em cada região no ano de 2023: dias de cocho, total de arrobas produzidas e o percentual do custo de nutrição frente ao custo total. Os custos estimados são de R$ 220,86 e R$ 197,31 por arroba produzida para Centro-Oeste e Sudeste. Trata-se de um patamar de custos que permite um lucro superior a R$ 1.160,00 por cabeça no Sudeste e superior a R$ 840,00 por cabeça para o Centro-Oeste, considerando apenas o preço de venda balcão.
Imagens: Capa – Gilson diz que falta profissionais no setor.
Na sequência, Amarildo Pires considera os custos muito altos e Silvestre Coelho demonstra preocupação com a alta do dólar.