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Hidrolândia promove hoje encontro sobre a jabuticaba

Wandell Seixas

O IV Encontro Técnico sobre a Cultura da Jabuticabeira 2025 transcorrerá hoje a partir das 12,45 horas no auditório da Escola José Amâncio, Centro de Hidrolândia, cidade a 35 km de Goiânia. A proposta do evento é conhecer mais sobre o cultivo o potencial da jabuticabeira. O município tem tradição sobre a espécie e também no processo de comercialização, atraindo gente das cidades próximas para a degustação. Recentemente, no entanto, os produtores demonstraram preocupados com a mortandade de jabuticabeiras.

Considerando a gravidade da situação, a Emater-Goiás, vinculada à Secretaria da Agricultura, passou a estudar as causas numa parceria com outras instituições como o Instituto Federal Goiano, EUG, a UFG, o Imet e a Prefeitura Municipal. A instituição inclusive é promotora do encontro, aberto a produtores, técnicos, pesquisadores e estudantes.

Segundo a pesquisadora Maurízia de Fátima Carneiro, a iniciativa teve origem em uma demanda dos agricultores que, preocupados com o aumento das mortes em suas propriedades, procuraram apoio. “Essa mortalidade já é observada há pelo menos 25 anos, mas com o crescimento da área cultivada e o aumento do número de pomares, a situação se tornou mais evidente e preocupante”, esclarece.

Diferente do que se imaginava inicialmente, a morte das jabuticabeiras não está relacionada exclusivamente à ação de fungos ou nematóides. Após a coleta e análise de amostras de solo, raízes, troncos e folhas, realizadas com apoio de instituições parceiras como a Universidade Tecnológica do Paraná, foi constatado que esses organismos, embora presentes, ocorrem em quantidades pouco expressivas para causar a morte das plantas de forma isolada.

“O que verificamos é que o fator principal parece ser o estresse hídrico intenso, característico do bioma Cerrado, onde temos seis meses de seca. A jabuticabeira é originária da Mata Atlântica, uma região muito mais úmida. Essa discrepância climática afeta diretamente a fisiologia da planta”, explica Maurízia. Um dos fenômenos observados é a cavitação, processo em que bolhas de ar se formam nos canais internos da planta, bloqueando o transporte de água e comprometendo sua sobrevivência.

A pesquisadora destaca que essa condição de vulnerabilidade facilita a ação de patógenos. “É a combinação entre o estresse hídrico, fungos oportunistas, nematóides e até pragas que levam, ao longo dos anos, ao enfraquecimento e à morte da jabuticabeira”, completa.

Sintomas e impactos

Os primeiros sinais de comprometimento costumam surgir no topo da planta, com a seca de folhas, brotos e ramos, podendo ocorrer tanto em árvores adultas quanto jovens. Estudo realizado pela Emater identificou que 82% das propriedades em Hidrolândia registraram casos de morte de jabuticabeiras. A maioria (78%) das perdas ocorre em plantas adultas, com 22% dos casos afetando mudas mais novas. Apesar do índice ainda não ser considerado alarmante, o impacto é expressivo, já que a jabuticabeira leva de 10 a 15 anos para iniciar a produção de frutos.

“Quando uma planta morre, o produtor precisa substituí-la, e essa reposição pode levar mais de uma década para voltar a produzir. É uma perda de longo prazo”, observa Maurízia. O levantamento aponta que apenas 29% dos produtores fazem reposição das plantas perdidas, geralmente em áreas diferentes daquelas afetadas, como medida preventiva.

Em uma das propriedades monitoradas, a chácara de José Vieira, a situação se agravou nos últimos dois anos, com perdas bem acima do habitual. A renovação anual de cerca de 30 pés por questões naturais de envelhecimento deu lugar a cortes emergenciais, em número crescente.

“A gente sempre faz a renovação do pomar, tirando uns 30 pés por ano. Mas agora aumentou demais. Só este ano já cortamos mais de 50, e ainda tem planta para tirar. Começa a secar lá de cima, nos ramos da copa, e a árvore vai enfraquecendo até morrer. Tem jabuticabeira aqui com mais de 40 anos. É muito triste ver isso acontecendo tão rápido, em menos de um ano”, relatou o produtor.

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